quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

METAMORFOSES E PERMANÊNCIAS

2007: um ano rico de mudanças, de experiências de todas as cores e sabores. Cuidei bem dos meus pais, de mim mesma. Retomei firme a atividade com o barro. Fizemos um projeto para expor e conseguimos realizar bem todas as etapas. Viajei a Strasbourg e Canárias, estive com filhas e netos, carinhos mil, muita descoberta. Visitei amigos de muito longe outros se fazem. Mantive o contato com amigos que não consigo ver de perto, amizades construídas ao longo dessa existência. Muito bom, tudo isso. Meus pais se mudaram, se transmutaram em estrelas ou anjos, a família se recompôs, se reorganizou, nos mantivemos unidos, sem as loucuras em torno do patrimônio material. Os amigos POTIGUARA estão em plena evolução, em construção de sua autonomia e crescimento cultural. Compartilhar tem sido um exercício, que desejo continuar plenamente, mantendo o centro, o foco principal, de respeito à vida. Com a iniciativa da Loba, vamos ter mais uma Coletânea de escritos de blogueiros. Quanta conquista!!! A todos os amigos da net, desejo imensamente Saúde e Prosperidade, Evolução em suas decisões, e que consigamos manter a cabeça nos Céus e os pés ecologicamente plantadinhos no Planeta Terra. ! Viva a Amizade! Deus é o Maior! ***FOTOS DA Ceci: INSTANTES DE GRANDE ANIMAÇÃO NO AUTO DE NATAL,CAMPINA GRANDE - PB

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O FAZER CERÂMICO

"No ato de amassar o barro e dele ver surgirem formas, há uma espécie de magia e um aprendizado constante. São formas que de algum modo estão impressas em minhas lembranças, presentes num tempo e lugar que poderia ser em qualquer recanto do Brasil, na Algéria, Gran Canária ou Afganistão: uma contadora de história para embalar a noite estrelada, uma rezadeira para amenizar a dor de crianças e velhos, uma professora para alargar a visão, uma filha que trabalha duro para alimentar sua velha mãe, uma louca que se perde entre delírios, uma menina faceira com sonhos mil... São personagens vivos de todos os tempos na vida dos povos. O barro mudou minha vida, minha rotina, meu pensar e minhas perspectivas na maturidade. Este texto foi produzido na OFICINA PEDRA DO REINO, durante o desenvolvimento do projeto da Exposição Caminhos do Barro, em João Pessoa/PB

domingo, 9 de dezembro de 2007

O PAPALAGUI

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” Convidada por Sam, do Fênix Ad Aeternum para a blogagem coletiva pelos DIREITOS HUMANOS, trago trechos do livro O PAPALAGUI*, pensando no Art. 1° da Declaração Universal dos Direitos Humanos, acima transcrito. *Papalagui traduzido literalmente, é aquele que furou o céu. O primeiro missionário europeu a desembarcar em Samoa chegou num veleiro branco. Os nativos, vendo o veleiro de longe, pensaram que as velas brancas fossem um buraco pelo qual, furando o céu, o europeu tinha aparecido.” “O Papalagui pensa de modo estranho e muito confuso. Está sempre pensando de que maneira uma coisa pode lhe ser útil, de que forma lhe dá algum direito. Não pensa quase nunca em todos os homens, mas num só, que é ele mesmo. Quem diz: “Minha cabeça é minha, não é de mais ninguém”, está certo, está realmente certo, ninguém pode negar. Ninguém tem mais direito à sua própria mão do que aquele que tem a mão. Até aí, dou razão ao Papalagui. Mas é que ele também diz: “A palmeira é minha”, só porque ela está na frente da sua cabana. (...) “Lau” em nossa língua quer dizer “meu” e também “teu,” é quase a mesma coisa. Mas na língua do Papalagui (...) “meu” é apenas, e nada mais, o que me pertence; “teu” é só, e nada mais, o que te pertence. (...) Para ninguém pegar em coisas que o outro declarou como suas, determina-se com exatidão, por meio de leis, o que pertence e o que não pertence a certa pessoa. E existem na Europa, homens que mais não fazem do que impedir que estas leis sejam violadas, ou seja impedir que se tire do Papalagui aquilo que ele pegou para si. . Desta forma, o Papalagui quer dar a impressão de que, realmente, garantiu um direito, como se fosse Deus quem lhe tivesse definitivamente cedido o que tem. O Papalagui precisa fazer leis assim e precisa ter quem lhe guarde os muitos “meus” que tem, para que aqueles que não têm nenhum ou têm pouco “meu” nada lhe tirem do seu “meu”. De fato, enquanto há muitos pegando muitas coisas para si, há também muitos que nada têm nas mãos. Nem todos sabem os segredos, os sinais misteriosos com os quais se consegue ter muitas coisas, (...) que nem sempre se concilia com o que chamamos de “honra.” (...) Se pensasse direito, o Papalagui saberia que coisa alguma que não sejamos capazes de segurar nos pertence; saberia que, no fundo, nada há que possamos segurar. E também veria que se Deus nos deu a sua grande casa é para que todos nela encontrassem lugar e alegria. E ela é bastante grande, tem para todos um lugarzinho claro, uma alegriazinha; para todos existe certamente onde ficar debaixo da palmeira, um lugar onde colocar os pés, onde parar. A palmeira deixa cair as folhas e frutos que estão maduros. Mas o Papalagui vive como se a palmeira quisesse retê-los. “São meus” Não os tereis”, jamais deles comereis!” Mas como faria então a palmeira para dar novos frutos? A palmeira é muito mais sábia do que o Papalagui. Também entre nós existem muitos que possuem mais do que outros. É certo também que honramos o nosso chefe que tem muitas esteiras, muitos porcos, mas é só a ele que honramos, e não às esteiras e aos porcos. Estas coisas fomos nós mesmos que lhe demos de presente, como alofa, para mostrar-lhe o nosso contentamento, para louvar a sua grande coragem, a sua grande inteligência. Mas o Papalagui o que honra são as esteiras e os porcos em quantidade que seu irmão possui; pouco lhe importa sua coragem ou sua inteligência. O irmão que não tem esteiras nem porcos poucas honras recebe, ou não recebe honra alguma. Como as esteiras e os porcos não vão por si mesmos á procura dos pobres e famintos, o Papalagui também não vê razão para levá-los aos seus irmãos. O que ele respeita não são os irmãos, mas sim, as esteiras e os porcos; daí porque os guarda para si. Se amasse os irmãos, se os honrasse, se não vivesse lutando com eles pelo “meu” e pelo “teu”, levar-lhes-ia as esteiras que não usasse para que eles participassem desse grande “meu”. O Papalagui daria aos irmãos a sua própria esteira em lugar de atirá-los à noite escura. (...) Se Deus colocou muitos bens na mão de um homem foi para que repartisse com seu irmão.” //////// PAPALAGUI, comentários de Tuiávii, chefe da tribo Tiavea nos mares do sul. Recolhidos por Erich Scheurmann. Ed. Marco Zero, Traduzido diretamente do alemão “Der Papalagi” por Samuel Penna Aarão Reis, pág. 5, 55 a 58.Também participam desta blogagem coletiva : Lino Resende, Eduardo P. L., Du, Silvano Vilela, http://oscar-vg.blogspot.com/Luiz, Sérgio/Histórias & Cotidiano, Ronald, Cejunior, Neptuna, Chuvinha, Daniel Fernandes, Dragonfenix, Afrodite e Vénus, Ru Correa, Titão, Ali_Se, Fábio Mayer, Samantha Shiraishi, Cássia Valéria, Janmedeiros, Fernando, Chicoelho, Andréa Motta, Jeanne, Adriana, Marco, Caco, Menina Malvada (Ou Kaka), Luci Lacey, Dácio Jaegger, Catarina Cavalcante, Tocha da Paz, Idéias Literárias, Meiroca, Enio Luiz Vedovello, Jonice, Luma, Claudia, Tita Coelho, Monica Mamede, Marie, Rafael Sarmento, Fátima André, Lamire, Fábrica dos Blogs, ISM, Clandestino, Lidianne Andrade, Juca, Xico Lopes, Francy e Carlos, Lita, Dad, Pedro Fontela, Mauricio Santoro, André Wernner, X-Man, Cármen Neves, Roseanne, Bentes, André L. Soares, Tao, Lucia Freitas, Saramar, Ricardo Rayol, Luz Dourada, Maria Lagos, Wanderley Garcia, Carlos Fran, Vinicius Cabral, Xmitzx, Pat, Je vois la vie en vert, Cristiane.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

PEDAGOGIA E AMBIENTE: CADÊ CIDADANIA?

Uma coisa que sempre me traz um sentimento de raiva e impotência é quando entro numa escola e vejo as carteiras quebradas, cadeiras mal-engendradas, mesas aos pedaços, descascadas. Pergunto: o que podem as crianças que freqüentam este ambiente aprender como perspectivas de vida? Estudei em uma escola rural, tinha apenas uma grande mesa, e bancos grandes, rústicos, de madeira serrada pelo carpinteiro do povoado. Conhecíamos a origem do banco, isso fazia uma diferença para nós, meninos e meninas de idades e desenvolvimento bem diferentes. Não havia televisão mostrando o desperdício das cidades, a destruição da vida natural. Não havia nada disso. Então nós éramos muito felizes nos bancos de madeira rústica, balançando as pernas, e estudando a tabuada para a “sabatina”. O sanitário era do lado de fora, como são na zona rural, mas eram limpos e lavados todo dia, para que a gente pudesse usar sem constrangimento. Nas escolas públicas onde tenho entrado nestes anos, continuo a ver cada vez piores as condições ambientais do alunado. Lembro quando o metrô foi inaugurado no Rio: a reação das pessoas foi e é bem diferente de entrar num trem quebrado, num ônibus sem banco, com os espaldares quebrados, ou com acento rasgado, com o chão sujo, as baratas correndo pelas janelas.... Muito diferente de entrar num ambiente limpo, com estímulo ao asseio, ao respeito ao objeto, ao veículo, à vida. É um sentimento que tenho fundo, deve ser assim para os outros humanos. O ambiente limpo, bonito, traz uma onda de prazer. Na sujeira e degradação, qual é o sentimento? Aí, vêm os ministros, secretários, diretores de departamento de educação e pensam e pensam, e formulam mil e um projetos, mas nada de resolver a questão dos ambientes da escola: aqui, em plena capital paraibana - bem como no Rio de Janeiro, São Paulo, Amazonas, Acre, (é só ir copiando as cidades do mapa) - encontramos escolas com instalações sanitárias em miséria, com salas em miséria, com corredores escuros, cadeiras quebradas, mesas escandalosamente impróprias para o uso humano. Poderiam estar melhor, poderiam estar consertadas, limpas, compor um ambiente para receber os alunos em festa no início do ano, dar a eles as boas vindas, com algo bonito, limpo, adequado. Mas é uma coisa sem fim, um mal sem limite. Não tem ministro, nem secretário que visite as escolas de repente, se visitassem sairiam mal da cabeça. Se fossem aos banheiros da escola ou sentassem por 10 minutos diante do quadro, naquelas cadeiras que vi na Aldeia Forte, e em outras aldeias indígenas, poderiam dispensar diversos projetos farjutos e investir no ambiente escolar. Tanto treinamento das professoras, e tanta falta de respeito com o ambiente onde trabalham nossas educadoras, na grande maioria mulheres, abnegadas, dispostas a tudo para melhorar o resultado de seu trabalho. Só que a responsabilidade pelo ambiente, pela adequação dos equipamentos não é delas, mas do Estado brasileiro. Onde está a coragem para tratar a questão da qualidade do ambiente educacional? Sabemos que essa situação não é privilégio do nordeste, nem das aldeias. Trabalhei 30 anos em escolas públicas do Rio de Janeiro, e quantas vezes tivemos de nos cotizar para resolver a situação de um banheiro quebrado, quantas vezes nos reuníamos para não dar aulas por absoluta falta de condições sanitárias na escola? Gente, é um escândalo isso. Não é a pobreza que fere, mas a contradição que a escola mostra. Enquanto se esbanja dinheiro em projetos faraônicos, e na ladroeira, não se resolve algo tão simples como o direito de sentar e estudar em um ambiente adequado. Não falo das metodologias, nem mesmo do absurdo pequeno salário reservado para os educadores, falo do mínimo respeito à educação, das mínimas condições de aprendizado, de estímulo à curiosidade, da desejável alegria nos olhos dos meninos quando entram na escola. Garanto que se o Estado brasileiro desse sinal de respeito aos educadores, as atitudes deles também seriam outras. Se o que vale na governança é a falta de amor, de respeito e cortesia, então a doença se espalha com facilidade, empestando o país. Gostaria de fazermos uma campanha pela dignidade do ambiente escolar, quem sabe os meninos e meninas poderão sair dali com outras idéias e ideais? Podemos tentar? Então, cada um escolha um bairro de sua cidade e vá visitar a escola pública fundamental que está pertinho de você. Se não ficar convencido, visite mais duas ou três. Vejamos o resultado desta visita que não é anunciada, nem é do secretário de educação.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

EDUCAÇÃO: depoimento de um estudante

Conhecendo o professor e terapeuta Luiz Célio, e sua atuação profissional, tomei conhecimento do artigo do jovem jornalista, publicado no seu blog, o qual, com sua autorização reproduzo aqui, com a intenção de contribuir para as reflexões sobre o tema focalizado por Ikeda, no blog: www.cadernodematerias.zip.net Luiz Célio: Bem mais que um professor; um amigo. Como muitos jornalistas fazem em suas colunas, eu venho com muita humildade falar de um educador, de um psicólogo, de um sociólogo; na verdade eu vou falar de um amigo. Nos dias atuais não é fácil encontrar educadores centrados na realidade do aluno. Mas se deparar com professores “donos da verdade” e preocupados em só reprovar e humilhar aqueles que não comungam com seus ideais individualistas não é difícil ver nos muitos corredores da educação. No entanto, a exceção salva a categoria do terrível pecado da não preparação de muitos docentes. No meio das muitas desorganizações e da pouca seriedade existentes no campus III da UEPB em Guarabira, eu procurei desde o dia em que entrei para o corpo discente da instituição, analisar e conhecer melhor os mestres do saber. Busquei entender e ser entendido e confesso que me deparei com muita gente boa e muita gente ruim. Infelizmente é assim, o joio e o trigo por enquanto andam juntos naquele lugar que chamamos de universidade. É preciso ter jogo de cintura para driblar os lances que determinadas figuras dão no campo educacional. Eu sou feliz por driblar bem, em saber fazer amigos e considerá-los no meu dia-a-dia. Quando comecei a estudar com Luiz Célio Rangel (Psicologia) eu ouvi falar muito das exigências do referido mestre. Determinados colegas me relataram temer apresentar seus seminários. E assistir às palestras de Luiz Célio para alguns estudantes era um tormento. Realmente, eu me espantei com a forma como Luiz Célio leciona. Foi totalmente o oposto do que haviam me falado ao seu respeito como professor universitário. Hoje, ainda tenho o prazer de tê-lo como instrutor nas aulas de quarta-feira, e sinto que a turma também tem crescido com as idéias construtivas do Psicólogo. Durante o seu horário, nós, podemos expressar opinião, discordar ou concordar com seus comentários, relatar experiências, em fim, temos a verdadeira liberdade de expressão. De certo, Luiz não permite gracinha durante suas aulas, a seriedade prevalece, porém, tem momentos muito engraçados entre aluno e professor que nos fazem muito bem. Outra coisa interessante, é que Luiz Célio sempre pára para ouvir nossos reclames, pelo menos é assim comigo. Eu já tive a oportunidade de conversar com o mesmo sobre vários problemas relacionados a UEPB. Isso não acontece com todos os professores do campus. Muitos deles só conhecem o aluno no recinto escolar, por isso, eu devo relatar sobre o grande profissional que sempre pára para ouvir, e está disposto a emitir opinião sobre questões apresentadas pelos discentes. Eu recordo que nos primeiros dias de aula com Célio, tivemos um certo confronto de idéias. O assunto do momento estava ligado à teologia, história e ciência, e eu sendo evangélico, dei um parecer sobre uma colocação do docente, ao mesmo tempo eu e alguns da sala fomos repreendidos cientificamente. Conhecendo um pouco da bíblia eu tinha que defender a minha fé, mas eu não queria misturar religião com ciência, que para mim tem tudo a ver. Saudades desse inicio. Foi muito bom o nosso debate. A informação que me chega é que vão transferir LC para o setor de Pedagogia. Eu já vou perder outros amigos professores pelo fim do contrato, e agora estão querendo levar outro amigo para um departamento distante do nosso. Devo reconhecer que é pela sua competência, mas a sua ausência em nossa turma não nos faz felizes. Vou terminar, dizendo que não merecemos perder o professor para o curso de Pedagogia que está em baixa na referida instituição. E o professor também não merece deixar uma turma que o considera e admira sua forma de ensinar. Eu não mereço e não posso perder esse amigo que sempre soube compreender as diferentes ideologias dos alunos. É verdade, encontrar professor independente dentro da universidade é uma tarefa difícil, e pagar os diversos conselhos e favores, não é tão fácil assim. Eu encontrei não só um professor; encontrei um amigo. //************************************* Dedico este texto ao professor Luiz Célio Rangel. Escrito por Joseilton Gomes (Ikeda) às 10h39[ 22/11/2007

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

PELA PAZ

Agradecendo a Lino o convite para participar da blogagem coletiva PELA PAZ, passo a palavra a DRUMMOND, homem que praticou a paz e que completaria nesse 31 de outubro, 105 anos. OS PACIFISTAS ******** Na Cinelândia, pela tarde,/ em bancos vulgares e amigos,/ sentam-se homens mal vestidos./ Não mostram pressa de voltar / para casa ou para o trabalho/. Sentam-se em honra de uma vida/ que vive dentro de suas vidas/ corriqueiras, pardas e tristes,/ e lá ficam a ver as pombas/ em torno à estátua de Floriano/ catando milho distribuído/ por um deus amigo das aves,/ o deus que no baixar à Terra/ preferiu o simples disfarce/ de empregado administrativo./ Bicam as pombas, esvoaçam/ por entre mármores do Teatro,/ do Museu e da Biblioteca,/ não que lhes interessem óperas,/ livros, telas, artes humanas./
Brincam as pombas: pena, cor/, lampejo entre árvores, tranqüilo/ ser-existir infenso ao trágico/ mundo que se foi modelando/ entre gritos, gagos regougos/ lágrimas, cóleras, solércias,/ à custa do mundo essencial/. Libertados de todo peso,/ deixam-se os homens / desprevenidos face às pombas./
Silenciosos e circunspectos,/ são talvez os homens melhores/ de nosso tempo assim parados./ Não pleiteam bens ou poderes / mais que o bem e o poder de um banco/ alteado no chão de pedrinhas./
Não transportam a guerra n’alma,/ não vendem ódio, não tocaiam/ nem sofismam quem tem razão/ entre sem-razões deste instante/. O vôo não viajeiro basta-lhes/ para alimento das retinas/ e, ao mirar as pombas, remiram/ uma harmonia que perdemos./ Na Cinelândia, aves e homens / redescobrem a paz, em vida./
******** Carlos Drummond de Andrade, in Seleta em Prosa e Verso, 1976 Livraria José Olympio Editora

domingo, 30 de setembro de 2007

EM VIAGEM (3)

A TRAGÉDIA Uma tragédia se abateu em Gran Canaria neste agosto 2007, enquanto estávamos ali, Fomos alertados pela notícia de fogo na reserva florestal que apenas havíamos vislumbrado do terraço do Tagoror... Vi lágrimas correrem nos olhos canários, apaixonados pelo patrimônio natural de sua pátria. Entendi depois como tudo se passou. Gran Canária é montanhosa, os vales numerosos, a reserva se concentra no centro da ilha e no verão é natural que muitas plantas secas estivessem vulneráveis ao fogo. Um louco em seu desvario riscou um único fósforo, o fogo começou em um vale, logo se formou um corredor de labaredas que se espalharam rapidamente pela reserva. Os esforços de todos os setores públicos não bastaram para deter a onda de fogo, que se transmitiu a outras ilhas, provavelmente pelo vento ou também provocado. Foram mais de vinte mil hectares queimados, cerca de 1/3 das reservas de Gran Canária, afetando 20 % dos espaços vitais, durante cinco dias. Perderam-se 30 (ou mais) espécies de fauna e flora endêmica. Ao atingir o Los Palmitos Park, um super zoológico da ilha, o fogo consumiu a maioria dos animais e vegetais, 65%. Aí, foi demais a tristeza que se abateu sobre a população das comunidades. Passado o fogo, fomos visitar as áreas afetadas: São Bartolomeu, Tejeda, Mogán, Santa Lucia e São Nicolau. Uma visão de trevas, infernal, vales queimados, cinzas por toda parte, sinais do que foi, uma dor em nós, por tanta destruição, enormes palmeiras tornadas cinza. Como assumiu o periódico ISLA 21: “É preciso que Canárias conte com os meios necessários para enfrentar uma catástrofe natural de tal porte, com total garantia de segurança. ... com os montes ardendo em Gran Canária, Tenerife e La Gomera, ficou patente a falta de meios contra incêncio para uma atuação mais rápida, onde se produza o incêndio. Tenhamos em conta que o tempo transcorrido entre a tomada de decisões e o traslado dos meios pertinentes da Península é decisivo e pode ser fundamental na hora das determinações” “Vêm à nossa memória, inevitavelmente, aqueles antigos “camineros” que andavam por nossos montes e eram encarregados de velar pela sua conservação e limpeza. Agora uma política ecologista mal encaminhada e desacertada, tendendo a uma superproteção de nossos montes, está contribuindo para materializar justamente aquilo contra o que se lutava. Como sempre, temos a triste sensação de que sobram autoridades, mas faltam responsabilidades. LÁ COMO AQUI : LEMBRAR DO QUE OCORRE NA AMAZONIA, NO CARIRI, OU NAS RESERVAS INDÍGENAS.

sábado, 22 de setembro de 2007

EM VIAGEM (2)

Estar em Canárias é bastante distinto de estar nas capitais ou cidades do interior brasileiros, não somente pela paisagem, mas também pelos ventos abundantes, como os moinhos presentes na paisagem, geradores de energia eólia, sabiamente aproveitada nas ilhas. . Enquanto os ventos sopram, as montanhas dominam o olhar, com sua cor escura cinza escuro e verdes especiais. Surpreendi-me com as espirais dos caminhos volteando as formações rochosas, paisagens mutantes à direita e à esquerda. Impossível ficar indiferente à diversidade de visões. A temperatura vai pedindo agasalho, mesmo se o sol ilumina as encostas. Lá pelas tantas, avistam-se “buracos” nas formações rochosas: _ Ali moram famílias, são residências que existem há séculos, patrimônio nacional, não se pode modificar com placas, pinturas ou paredes, etc. No entanto, a moradia existe, funciona, mas se os “ proprietários” resolvem passar para outro, é caro, está tudo controlado. As grutas fazem parte da vida. Tudo que acontece por aqui é visto, fiscalizado, é nosso patrimônio, zona arqueológica! _Também existem restaurantes, igreja, museu. Paramos num “terraço”, donde podemos nos maravilhar com a amplidão das cordilheiras, vislumbramos a densidade do verde das reservas florestais, tão bem cuidadas, as vias de acesso no Barranco de Guayadeque, que acabamos de percorrer. . Atrás de nós a gruta-Restaurante Tagoror, decorada por peças de cerâmica antigas, muito antigas. Toda “janela” interna exibe um objeto, lembrando os Guanches, habitantes das ilhas antes dos espanhóis: símbolos geométricos utilizados pelos aborígenes Canários para pintar seus corpos, decorar os lugares sagrados e como selos familiares em espaços coletivos, além de figuras representando suas crenças, como a deusa da fertilidade. Uma lição de história, de memória preservada. Seguimos Barranco acima, ao longe o Roque Nublo, pico onde se efetuavam os rituais místicos dos primitivos povos. Aqui e ali, as flores nos surpreendem, enormes cactos, a fruticultura, as ervas, tudo tão parecido com a flora brasileira. Impressionante a vegetação rasteira dominante sobre a rocha vulcânica, parece seca, mas mantém sua vitalidade para ser plena no inverno, quando as flores cobrem os campos, um espetáculo de grande beleza, segundo informações alegremente repetidas, pelos Canários de hoje. Em plena montanha, é possível visitar museus de artesanato, casas originais onde alguém resolveu cultivar a arte cerâmica, conservando o lugar intacto por mais de cem anos, inclusive a oficina, mantida por alunos, e protegida por algum subsidio do governo local. Ou uma escola agrícola de excelente nível, tudo muito simples, com aproveitamento total dos espaços. Em nosso querido Brasil, os sinais dos nossos índios foram apagados, pela indiferença, violência ou desprezo. Os sítios históricos como as Itacoatiaras de Ingá abandonadas à sorte, mofando, descascando, cada um chega e faz o que quer, porque administração e fiscalização não há. Entre nós, o que está sendo feito pra restaurar um pouco da memória de nossos ancestrais? Como estamos tratando nós mesmos, os traços de nossa memória? Não pergunto aos governantes, que esses não lêem blogs, como não lêem nossas necessidades de povo. Mas a nós mesmos, simples cidadãos: Como vemos os índios que lutam pra lembrar quem são, entorpecidos pela indiferença,violência, desprezo ou cachaça? Qual nossa parte nessas tragédias? Sem compromissos com a memória, aonde vamos? Talvez seja mais fácil cultivar piadas com as falas trôpegas de Lula, ironizar a falta de vergonha do Senado... VIVA O POVO BRASILEIRO, de João Ubaldo Ribeiro, comemora seus 40 anos, merece ser relido nesse tempo de descartáveis!

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

EM VIAGEM (1)

Foram três semanas em Gran Canaria. A princípio pensava em uma ilha com gentes, bichos e matos, como aprendi no cinema. Mas as surpresas vieram todos os dias. Logo na chegada, ao sobrevoar, o mar pareceu assustador, com espumas brancas em ondas, em contraste com o azul escuro, mistério de águas. Pensei: nesse mar não entro. Depois, desfiz esse pensamento... Ao desembarcar do Condor, o corredor de acesso à terra é um abraço de boas vindas, com pinturas murais convidando ao prazer nas ilhas. A recepção foi de muito olá, sorrisos familiares, coisa do céu! Na estrada meus olhos se abriram para a paisagem rochosa, de cor escura, aqui e ali cactos e palmeiras de grosso tronco piramidal tornam o verde mais verde, no meio das rochas vulcãnicas. E mais: viveiros cobertos com telas se sucediam pelos caminhos... Meu genro foi explicando que os viveiros contêm plantação de tomates, pimentões, cenouras e outros vegetais de grande consumo. _ Como pode? pergunto assombrada. _ A verdade é que se precisa plantar e se o terreno parece sem vida, é pura ilusão. A tecnologia alcançou a ilha permitindo desenvolver uma agricultura sustentável. Também fiquei sabendo nos dias seguintes que toda terra que parece mato seco, é patrimônio do Estado, não se pode tirar nem um galhinho, nem pedrinha, nem nada. Qualquer construção tem enorme fiscalização. Quem se aventurar a fazer diferente, tem suas paredes aniquiladas. E paga multas incalculáveis. E que na chegada do inverno toda aquela secura se cobre de flores tropicais as mais diversas, no respeitado ciclo da vida. Seguindo ainda em direção a Ingenio e Arinaga, outra marca de Canárias desenhou-se na via pública: muitos jardins nas rotundas, exibem palmeiras, flores e esculturas, numa combinação de beleza de dar brilho nos olhos, com motivos da cultura canária: temas agrícolas, esportivos, históricos, ecológicos, sociais... As palmeiras são cultivadas em outros sítios e transplantadas para os . jardins. Ficam uns tempos com a folhagem protegida, até a adaptação. Finalmente, a chegada no bairro residencial surpreende pela limpeza ambiental, pelas cores quentes, pela qualidade das moradias, pela camaradagem entre vizinhos. Como eu não sabia desse pormenor, depois meu anfitrião recebeu a reclamação do velho morador, porque passei por ele sem cumprimentar. Para ele, foi ato de desconsideração. _ Os governantes do Brasil precisam urgentemente de um estágio nessa ilha, pra aprender a cultivar o solo brasileiro tão fértil, mas tão maltratado e vilipendiado. Precisam valorizar nossa cultura nas praças e vias públicas, que atualmente só servem para outdoor. Parece que se tem vergonha de nossa origem, os governantes não estão nem aí para a preservação real de nossa memória. Querem mais é tomar a bênção ao Bush, americanizando nossas paisagens o que finalmente influencia nosso pensamento e ação! Se tivermos paciência pra contar as placas em língua inglesa, vamos perder a conta. Os nomes de praça... alguém conhece? As esculturas, uma pobreza. Gosto mesmo do Drummond sentado em Copacabana. Rara justiça. É ótimo que saibamos outras línguas faladas e/ou escritas pela humanidade, mas enchermos as ruas com os códigos alheios é ofensa a nossa cultura! Seria lindo se em todas as cidade brasileiras pudéssemos ver seus heróis, nossos trabalhadores, nossas origens, nossos costumes e características. Dentro de mim, ficou mais forte a indagação sobre a nossa auto-estima, sobre nossa educação, todas as mazelas que assolam a administração pública e privada. Quando é que Lula vai às Canárias? Quando algum presidente do Brasil vai se dar ao trabalho de olhar a realidade brasileira com olhos de brasileiro? Só pra lembrar: as ilhas Canárias têm sua riqueza no turismo, mesmo tendo praias sem areia, solo árido, a alegria dos canários é visível, seu orgulho de mostrar sua terra incomparável!

terça-feira, 4 de setembro de 2007

domingo, 8 de julho de 2007

MESTRE NADO em O SOM DO BARRO

A partir do vídeo O SOM DO BARRO, que nos encantou, fomos visitar o Mestre Nado, em Olinda. Encontramos sua casinha numa comunidade da periferia. Uma grande mesa expunha algumas ferramentas simples, feitas por ele mesmo e barro para os dez visitantes esperados. Recebeu a gente com um instrumento de sopro que construiu com a argila. Contou que brincava quando criança, fazendo “bolas ocas”, com barro, natural em sua condição. Cresceu e passou a fazer da argila seu meio de vida, fazendo peças de brinquedo e utilitários. E, lá pelas tantas, experimentou fazer um apito, evoluindo para um instrumento de sopro com diversos furos que permitem produzir os sons de uma escala completa. Então, se encantou com a múltipla sonoridade do barro, começou a estudar a música. Já estava maduro, a cabeça branca não o impediu de continuar a buscar o aperfeiçoamento dos sons. E de tanta pesquisa, chegou a uma forma mais complexa da OCARINA com uso de argila, couro e madeira. Quando se olha pensa-se em animais pré-históricos, tal a forma que apresentam as ocarinas do Mestre Nado. Ele relata que posteriormente, encontrou semelhanças com instrumentos muito antigos, que se perderam na sua origem. E que sua surpresa ainda hoje não tem tamanho, quanto ao seu próprio caminho com o som do barro. Executa com graça músicas de Luiz Gonzaga e Pixinguinha, acompanhado do “bum d’água” (percussão, feito de barro) e tambor, tocados pelos filhos. Aí, foi demais, explodimos em alegria! Orientados por sua filha Sara também fizemos a “bola oca”, princípio de tantas construções em argila, que virou nossa ocarina e nos deliciamos com a brincadeira do acabamento em poucas horas. Mostrou-nos o quintal que expõe tantas pesquisas, formas, brinquedos infantis, e o trabalho da filha se diferenciando com personalidade própria, em harmonia com a maestria do pai. Outros filhos trabalhando, a mulher circulando entre as peças completam a cena de labor de um brasileiro que nos conquista com sua arte. Como se não bastasse, as crianças das comunidades podem aprender com ele muitas e muitas coisas do bem viver. Sabe aproveitar o "lixo" da comunidade para transformá-l0 em energia no forno. Enquanto conversamos, chega um menino com tábuas bichadas, que leva para o quintal. Encantou-nos ainda a forma como se comunica, falando pouco e preciso, expondo sua experiência com propriedade e alegria. Ninguém diria que ali mora um verdadeiro Mestre, que sabe tirar da argila seu sustento, construir sua arte e exercer sua vocação de educador, ecologista e cidadão.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

A VAQUINHA ou LA VAQUITA

Um mestre da sabedoria passeava por um bosque com seu fiel discípulo. Viu de longe um sítio de aparência pobre, decidiu fazer uma visita ao lugar. Durante a caminhada, comentou com o aprendiz sobre a importância das visitas, também de conhecer pessoas e as oportunidades de aprendizagem que temos nestas experiências. Chegando ao lugar, constatou a pobreza do sítio, os habitantes, um casal e três filhos, a casa de madeira em mau estado, vestidos com roupas rasgadas, sem calçado. Então, se aproximou do homem, aparentemente o pai da família e lhe perguntou: - Neste lugar, não existem possibilidades de trabalho, nem pontos comerciais? Como fazem vocês para sobreviver aqui? O homem respondeu: - Meu amigo, nós temos uma vaquinha que nos dá vários litros de leite todos os dias. Uma parte do produto vendemos e trocamos por outros alimentos na cidade vizinha; com outra parte produzimos queijo, manteiga, para nosso consumo e assim é como vamos sobrevivendo. O sábio agradeceu a informação, contemplou o lugar por um momento, se despediu e se foi. No meio do caminho, disse ao discípulo: - Volte, leve a vaquinha à beira do precipício. E empurre-a no barranco. O aprendiz olhou para o mestre com espanto e questionou a ordem, sobretudo porque a vaquinha era o único meio de sobrevivência daquela família. Mas como viu o silêncio absoluto do mestre, tratou de cumprir a temerosa ordem, jogou o animal no precipício, vendo como morria. Aquela cena ficou gravada na memória do jovem por alguns anos. Um dia o jovem deixou o seu mestre, resolveu ir visitar aquela família, contar-lhes tudo, pedir-lhes perdão e ajudá-los. Assim fez, e à medida que se aproximava do sítio, via tudo muito bonito, árvores floridas, uma enorme casa, .e algumas crianças brincando no jardim. O jovem se sentiu entristecido, porque pensava que aquela família humilde tivesse vendido seu terreno pra sobreviver. Apressou o passo, e quando chegou no lugar, foi recebido pelo dono. O jovem perguntou pela família que vivia ali há uns anos atrás. O homem disse que continuavam a viver ali, nunca haviam saído. Consternado, o jovem entrou na casa correndo e constatou que era a mesma família que visitou há alguns anos com o mestre. Elogiou o lugar e perguntou ao Homem: - Como fez para melhorar o lugar e mudar de vida? O homem respondeu com entusiasmo: Nós tínhamos uma vaquinha, mas um dia ela caiu no precipício e morreu. Dali em diante, nos vimos na necessidade de fazer outras coisas, desenvolver outras habilidades que não sabíamos que tínhamos. Assim, alcançamos o êxito que seus olhos vislumbram agora. //// História da tradição oral, coletada num curso dado por Inno Sourcy, Contadora de Histórias.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

AGRADECENDO

AMIGOS, queridas amigas e amigos, Tem sido confortável receber tantos gestos de solidariedade nesse momento em que vivenciamos a dor da perda de duas pessoas tão importantes em nossas vidas, nosso pai e nossa mãe, num intervalo curtíssimo. Também nos conforta saber que eles partiram tranquilamente, viveram bem até o último momento, rodeados da família. E mais: que sendo sete filhos deixados, estamos encaminhando todos os atos subseqüentes com tranquilidade, sem voracidade por herança, com o devido respeito pela história e memória deles (que é a nossa também). Quanto a minha saúde está perfeita, apenas peço paciência e compreensão a vocês, amigos blogueiros. Preciso de uma pausa para voltar a escrever. A todos que se manifestaram - Adelaide Amorim, Adélia, Adonis Belo, Bené Chaves, Beth, Cherry, Clarice, Claudinha, Crys, Dácio, Dira Vieira, Dora, Elis, Francisco Dantas, JFS, Kaline Alves, Lino Rezende, Loba, Luma, Miriam Monteiro, Márcia(Claudinha), Miguel Chammas, Rubo Medina, Taís, Zeca - meu terno abraço de agradecimento. Até breve!

sábado, 2 de junho de 2007

A M I G O S, Minha sobrinha Mayara Silveira escreveu um texto sobre os avós, (meus pais). Vale a pena uma visita a www.recantodasletras.com.br/autores/mayarasilveira Pensei em reproduzir aqui, porém é mais justo uma visita à criação original. Obrigada! Um abraço de coração a coração, Ceci

domingo, 27 de maio de 2007

AGRADECIMENTO

A TODOS OS AMIGOS PELOS GESTOS DE SOLIDARIEDADE PELAS PALAVRAS DE CARINHO E CONFORTO, por ocasião da morte de meu pai, nos seus 92 anos, que embora todos nós da família e comunidade esperássemos, sentimentos que nascem com a perda são imensamente diferentes do que pensamos. Enquanto as reflexões se aprofundam, somos levados a rever caminhos, decisões, tendências, prioridades.... Enfim, perda e mutação se misturam em metamorfoses nunca antes pensadas. Abraços a todos vcs, amigos generosos! Ceci

domingo, 6 de maio de 2007

A MARIA, A LOUCA

O corpo desnudo, / O rosto molhado / chora os abraços / perdidos na estrada, / entre grades Maria! / Mãos se alvoroçam no ar, / vazias se encolhem / no murcho ventre. / O peito, em soluços, / se quebra, em gemidos / ouvidos na estrada / Restos de comida / no barro do chão / tigela sem vida, / caneca vazia de afeto. / Entre grades Maria, / a louca do caminho... / Conta-se do filho, / no ventre proibido, / da moça sem razão. / Maria quer voar, / com asas de cera, / destino ilusão / sem grades morrer, / ou perder-se no mar / atrás da montanha, / em vale florido! /
Uma flor para Maria!/
********************* Barro é ..."um pedaço da Terra Mãe, plástica, suave, sensual para as mãos de mulheres e de homens que buscam entender os segredos e as possibilidades da cerâmica. Barro é encante". Maria dos Mares

quarta-feira, 18 de abril de 2007

INDIOS: autonomia X dominação Esta coisa de Dia do Índio, Dia do Negro, Dia da Árvore, me cheira a um pedaço de foto de bolo, no meio da fome geral. Os índios, em esforço por sua autonomia, se organizam pra aproveitar a mídia e fazem seus festejos, discutem sua situação, retomam espaços roubados há séculos. Antes, era só o Toré na festa oficial. Agora tomam as rédeas, e festejam toda semana, todo dia, se possível. Aqui na Paraíba, a Educação ainda não assumiu nossas origens, mas nas aldeias, de Rio Tinto, Marcação e Baía da Traição, educadores indígenas se esforçam para fazer uma “Educação Diferenciada” voltada para a reconquista dos seus valores éticos, religiosos, culturais – incluindo lingüísticos – ao longo do período escolar. No entanto, a estrutura montada com a influência dos diversos setores da sociedade, não permite que eles encontrem seu caminho por conta própria. Nas festividades, lá estão os representantes da Igreja Católica, de olho no futuro, puxando orações próprias do catolicismo, enquanto nossos irmãos indígenas se preparam para dançar o TORÉ. Nada tenho contra Padre Nosso e Ave Maria, muito pelo contrário, são belas orações, mas querer que os índios rezem essas ou outras misturadas com seu ritual, onde já rezam e cantam a Natureza, não é invasivo? Se, ao longo da história, a igreja fez questão de tutelar os indígenas, com a tutela criou o hábito de eles receberem coisas e coisas do “branco”. (leia-se "não-índio!), como se fossem mendigos, sem terem feito nenhum trabalho que justifique o pagamento. Sob a capa da proteção, sabemos que o interesse foi outro. Do lado indígena, o esquecimento de sua língua, de suas técnicas, seus valores! Indias contam que se falassem que eram índias, seriam mortas, pelos "donos" dos engenhos e depois, usinas ou fábricas. Acostumaram-se a se esquecer, a se esconder pra sobreviver. Vieram os alimentos industrializados, envoltos em papel brilhante, como as batatinhas fritas, os docinhos em celofane, e o índio não preparado para tais assimilações, entrou de chofre num caldo de horrores alimentares. Os donos de usinas de açúcar passaram a oferecer dinheiro por “aluguel” de terras indígenas, para cultivo da cana, terras que foram destinadas pelo governo brasileiro, a sua sobrevivência. Resultado: as matas queimadas pouco a pouco, junto com a cana, no período da colheita, foi empobrecendo o meio - ambiente, devastando a Mata Atlântica, de forma que é possível ver milhares de hectares totalmente sem condição de cultivo. Muitas dessas matas queimadas detinham fontes de rios que banhavam as aldeias. As fontes secaram. E agora, José? Como podem os índios sobreviver sem rios, sem matas? Como podemos nós suportar tanta devastação de nós mesmos? Há casos de aldeias que servem de depósito do lixo do município. Quer dizer que as autoridades que deveriam zelar pelo ambiente de seu município, se dão o direito de invadir o que ainda resta de beleza natural no Estado da Paraíba, fazer da Reserva Indígena sua lixeira. Felizmente, muitas das lideranças estão acordando, estão trabalhando para resgatar o terreno perdido, inclusive de moradias que foram construídas por “supostos maridos de índias”, em terras da Reserva. Estão acordando, felizmente! E nós, que os amamos, respeitamos e somos amigos, sejamos apenas solidários, atentos: conversar, mostrar que somos irmãos, por nossas atitudes fraternas, isso sim, é muito benéfico. Porém, atenção para não nos tornarmos também invasores da cultura e ambiente indígenas. SEJA VALENTE COMO OS POTIGUARA, E NÃO PERCA A HUMANIDADE.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Alto lá, senhores e senhoras!

Nesse momento de tanto desespero nacional, com a população sofrendo e pranteando seus filhos, chorando o desemprego, vendo os valores éticos indo ralo abaixo, o Congresso Nacional, que seria o Legislador das causas que precisamos ser defendidas, despudoradamente decide que não mais trabalhará nas segundas-feiras. Como esses senhores estão agindo, de fato institucionalizam o desrespeito, o roubo e a violência. Portanto, não temos mais que pagar impostos, nem respeitar as leis que eles fazem, já que são desrespeitadores dos princípios de funcionamento de uma sociedade, onde a Constituição, reza que os deveres são de todos, bem como os direitos. Como destinamos nossos impostos a pagar tais violências e ficamos parados, como postes? Que tal fazermos uma blogagem coletiva com este tema? Que tal fazermos uma campanha nacional para acabar com este escândalo chamado Congresso dos Desmandos? Se esta seria uma medida doida, a deles de não mais trabalhar, para justificar mal e mal o que ganham, então valerá nosso enlouquecimento. Vamos dar um basta? Que idéias podemos concretizar? “Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta...” Ferreira Gullar “Seja valente como os indios KORUBO e não perca a humanidade” "De nada adiantam o brilho e a vontade de mudar a sua mente, se não brilha em sua garganta a coragem de gritar." Leandro Scavacin

terça-feira, 3 de abril de 2007

Viver Melhor: Espantando o bolor

Viver Melhor: Espantando o bolor

Espantando o bolor

O apartamento estava fechado há quase três semanas. Era preciso ir lá! Ao abrir a porta, senti o cheiro de bolor, mofo, coisa parada, retida, estagnação... Incrível! Apenas alguns dias e o ambiente mostrava estranhamento. Faltava gente circulando, ar se renovando, corpos em movimento. Faltava vida no ambiente. Escancarei todas as portas, os armários dos quartos, tudo agora ia respirando e tomando outra cara. Hora de retirar as roupas guardadas, espalhá-las nos sofás, cadeiras, mesas, secadores, pendurá-las ao vento, deixar os lenços voarem como beija-flores no ar, meias, lenços, blusinhas, vestidos, saias esvoaçantes, jeans, calções do marido, camisas e suas mangas dançantes, camisolas, camisetas, maiôs, calcinhas...alguma fralda de bichinhos coloridos, lençóis, toalhas azúis, amarelas, vermelhas, verdes de mato amazônico, tudo a respirar, respirar, respirar... Nesse instante, a casa se enche de cores, texturas, formas ao vento. A casa é brisa que vem do mar! O cheiro de morte sumiu pra dar lugar ao cheiro de renovação. Seria por esse motivo que as grandes casas de outros tempos, com tanta gente circulando, eram tão bonitas? Seria por esse motivo que a depressão ataca os viventes da cidade como se fosse um mofo? Estaria aí uma das causas que fazem os deputados não enxergarem a coisa certa, e se tornarem seres embolorados, assim que cruzam a porta de entrada da Câmara? Teríamos então de levar raios de sol para dentro do senado, para dentro dos gabinetes de todos os poderes? Como pegar raios de sol que possam operar mudanças dentro dessas casas que são mantidas por nós? Quem tiver alguma idéia, me diga, por favor!!! Chega de bolor! Tomara que o sol entre no coração daqueles homens e também mulheres, que passam dias cultivando mofo, atrapalhando os poucos que querem fazer o Brasil respirar!

quarta-feira, 21 de março de 2007

Sai daí, neguinha!

Sai pra lá, neguinha! A menina atravessa a rua, segue até o ponto de ônibus. A mochila parece maior do que ela, de tanto apetrecho pra escola. Do outro lado, outra menina aguarda o ônibus, com seu caderno na mão, a chegada do ônibus. A fila é grande, e começa o aperto do espreme-passa-sobe. As meninas e meninos se apertam pra entrar . A da mochila vermelha parece não caber em lugar nenhum. A do caderno, em sua magreza e negritude,vai se esgueirando. Os cotovelos brancos vão apertando e batendo na menina do caderno solitário. A da mochila dá-lhe um ligeiro empurrão, com o xingamento: - Sai pra lá, neguinha! A menina prende os beiços, não fala. A raiva se enrosca lá dentro, pra explodir noutra hora. - Sai pra lá, neguinha! Fica-lhe a machucar os ouvidos meninos, a saliva engrossa, raiva do vermelho da mochila. Naquela manhâ, a menina do caderno nem tomara café, havia só um pão na mesa, nada de queijinho nem biscoitinho. Felizmente, o riso da mãe tinha o mérito de acalmar o coração da menina. Um dia ela teria todos os queijinhos e pães para seus filhos negrinhos. Um dia ninguém a mandaria sair, porque ela teria o olhar forte, saberia responder, saberia lutar. Ah! Ia pedir a mãe pra aprender capoeira. Saberia lutar e poderia derrubar todos os inimigos dos pretos.

PRECONCEITO É UMA FACE DA VIOLÊNCIA. Não podemos admitir atitudes discriminatórias!

OBSERVAÇÃO: Esta postagem faz parte da BLOGAGEM COLETIVA proposta por LINO REZENDE, no dia de luta contra a discriminação racial: http://www.linoresende.com.br/blog/

terça-feira, 20 de março de 2007

Amar

Amar Viver melhor é - como bem disse Drummond - "Amar e esquecer, sempre, e até de olhos vidrados, ............................... amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia..." O poeta sabia como ninguém falar das nuances do amor, essa presente divino a que temos acesso em nossa humanidade. Em tempos de maturidade, o amor surpreende até o ser amoroso, que não contava experimentar ainda a felicidade total do pleno Amor. Então, apenas amemos, cada gota d'água, fonte ou oceano, amemos o vento forte como a brisa mansa das tardes de segunda-feira, como se fosse domingo. Amemos a pétala da flor do campo, como a das rosas mais solenes. Amemos cada amanhecer como único e especial. Amemos o riso do amado, tanto como sua sisudez. Amemos nossa ruga, como amamos a sedosidade percebida em nossa juventude. E sejamos assim felizes para sempre, no melhor estilo dos contos de fadas!

sexta-feira, 9 de março de 2007

MULHER SERENIDADE

MULHER SERENIDADE Na calma da tarde, a mulher e o homem trabalham. Ele ao lado do quiosque, debaixo da mangueira, ela sentada. Sentada e serena. O homem, em gestos seguros, abre dois verdes cocos e serve as sedentas mulheres, de repente passantes. Ela negra redonda, nos seus possíveis 35 anos. A saia cobre-lhe os joelhos juntados sob as mãos, como nuvens pousadas. A mulher sentada olha seu homem. Olha o tempo, mira o agora. Ele gastado do tempo, traços de índio, parece mais velho, olhar de franqueza, debaixo da mangueira, no meio da rua. Os filhos são três no Centro de Artes do Estado, aprendem a pintar, cantar e dançar. O mais afoito viola em cordas na tarde serena. O mestre abismado sabe a dança dos dedos meninos. Os sons voam, as cores volteiam no coração da mulher-encantamento: Ela parece ouvir melodias celestiais, prenúncio de alegrias na volta pra casa. Cabeça ereta, a mulher ergue os olhos em frente ao marido. Ele serena, volta seus olhos para a sublime mulher, na paciência da tarde. Entendimento perfeito, silêncio de almas, de corpos que falam, na dança amorosa, iniciada no olhar. Um riso desenha a alegria, na calma da tarde: uma mulher, um homem, crianças felizes, constroem seu amanhã, entre sons, cores, doçura, de fonte segura. Escrito para o Blog http://viveremnovotempo.zip.net