Uma coisa que sempre me traz um sentimento de raiva e impotência é quando entro numa escola e vejo as carteiras quebradas, cadeiras mal-engendradas, mesas aos pedaços, descascadas. Pergunto: o que podem as crianças que freqüentam este ambiente aprender como perspectivas de vida?
Estudei em uma escola rural, tinha apenas uma grande mesa, e bancos grandes, rústicos, de madeira serrada pelo carpinteiro do povoado. Conhecíamos a origem do banco, isso fazia uma diferença para nós, meninos e meninas de idades e desenvolvimento bem diferentes. Não havia televisão mostrando o desperdício das cidades, a destruição da vida natural. Não havia nada disso. Então nós éramos muito felizes nos bancos de madeira rústica, balançando as pernas, e estudando a tabuada para a “sabatina”. O sanitário era do lado de fora, como são na zona rural, mas eram limpos e lavados todo dia, para que a gente pudesse usar sem constrangimento.
Nas escolas públicas onde tenho entrado nestes anos, continuo a ver cada vez piores as condições ambientais do alunado.
Lembro quando o metrô foi inaugurado no Rio: a reação das pessoas foi e é bem diferente de entrar num trem quebrado, num ônibus sem banco, com os espaldares quebrados, ou com acento rasgado, com o chão sujo, as baratas correndo pelas janelas.... Muito diferente de entrar num ambiente limpo, com estímulo ao asseio, ao respeito ao objeto, ao veículo, à vida. É um sentimento que tenho fundo, deve ser assim para os outros humanos. O ambiente limpo, bonito, traz uma onda de prazer. Na sujeira e degradação, qual é o sentimento?
Aí, vêm os ministros, secretários, diretores de departamento de educação e pensam e pensam, e formulam mil e um projetos, mas nada de resolver a questão dos ambientes da escola: aqui, em plena capital paraibana - bem como no Rio de Janeiro, São Paulo, Amazonas, Acre, (é só ir copiando as cidades do mapa) - encontramos escolas com instalações sanitárias em miséria, com salas em miséria, com corredores escuros, cadeiras quebradas, mesas escandalosamente impróprias para o uso humano. Poderiam estar melhor, poderiam estar consertadas, limpas, compor um ambiente para receber os alunos em festa no início do ano, dar a eles as boas vindas, com algo bonito, limpo, adequado. Mas é uma coisa sem fim, um mal sem limite.
Não tem ministro, nem secretário que visite as escolas de repente, se visitassem sairiam mal da cabeça. Se fossem aos banheiros da escola ou sentassem por 10 minutos diante do quadro, naquelas cadeiras que vi na Aldeia Forte, e em outras aldeias indígenas, poderiam dispensar diversos projetos farjutos e investir no ambiente escolar.
Tanto treinamento das professoras, e tanta falta de respeito com o ambiente onde trabalham nossas educadoras, na grande maioria mulheres, abnegadas, dispostas a tudo para melhorar o resultado de seu trabalho. Só que a responsabilidade pelo ambiente, pela adequação dos equipamentos não é delas, mas do Estado brasileiro. Onde está a coragem para tratar a questão da qualidade do ambiente educacional?
Sabemos que essa situação não é privilégio do nordeste, nem das aldeias. Trabalhei 30 anos em escolas públicas do Rio de Janeiro, e quantas vezes tivemos de nos cotizar para resolver a situação de um banheiro quebrado, quantas vezes nos reuníamos para não dar aulas por absoluta falta de condições sanitárias na escola?
Gente, é um escândalo isso. Não é a pobreza que fere, mas a contradição que a escola mostra. Enquanto se esbanja dinheiro em projetos faraônicos, e na ladroeira, não se resolve algo tão simples como o direito de sentar e estudar em um ambiente adequado.
Não falo das metodologias, nem mesmo do absurdo pequeno salário reservado para os educadores, falo do mínimo respeito à educação, das mínimas condições de aprendizado, de estímulo à curiosidade, da desejável alegria nos olhos dos meninos quando entram na escola. Garanto que se o Estado brasileiro desse sinal de respeito aos educadores, as atitudes deles também seriam outras. Se o que vale na governança é a falta de amor, de respeito e cortesia, então a doença se espalha com facilidade, empestando o país.
Gostaria de fazermos uma campanha pela dignidade do ambiente escolar, quem sabe os meninos e meninas poderão sair dali com outras idéias e ideais? Podemos tentar?
Então, cada um escolha um bairro de sua cidade e vá visitar a escola pública fundamental que está pertinho de você. Se não ficar convencido, visite mais duas ou três. Vejamos o resultado desta visita que não é anunciada, nem é do secretário de educação.