
Ai que fome!
Como a cama
cheiro de rosas damascenas
do meu ventre palpitante?
Ai que fome!
Nas vitrinas, douradas peças,
lenços de seda, cavalos correndo,
na direção de Granada,
jardins sem fim
violinos ao Amor!
Ai que fome!
Trituro louças bordadas
pego o trem das nove,
sem olhar para trás:
Onde irão meus sapatos de saltos piramidais
inexistentes? Talvez passe sob o arco-íris libertação
Ai, que fome!
Mastigo a lua de arrepios e corpo nu
Devoro a cama, com cheiro de amores:
Todos eles tão passados
Desbotados na lembrança do sete estrelo.
Cinzas mornas, ainda quentes,
arrepios de lua correndo no céu de Ruanda,
Corpos nus, sangrados pelo ódio,
Insanas mãos!
Ai que fome!
Neurônios voam janela afora,
Assombrados pelas imagens,
Sem esperar o amanhecer das maçãs douradas
No coração da menina.
16.03.2009
foto: barra grande, alagoas