quarta-feira, 5 de setembro de 2007

EM VIAGEM (1)

Foram três semanas em Gran Canaria. A princípio pensava em uma ilha com gentes, bichos e matos, como aprendi no cinema. Mas as surpresas vieram todos os dias. Logo na chegada, ao sobrevoar, o mar pareceu assustador, com espumas brancas em ondas, em contraste com o azul escuro, mistério de águas. Pensei: nesse mar não entro. Depois, desfiz esse pensamento... Ao desembarcar do Condor, o corredor de acesso à terra é um abraço de boas vindas, com pinturas murais convidando ao prazer nas ilhas. A recepção foi de muito olá, sorrisos familiares, coisa do céu! Na estrada meus olhos se abriram para a paisagem rochosa, de cor escura, aqui e ali cactos e palmeiras de grosso tronco piramidal tornam o verde mais verde, no meio das rochas vulcãnicas. E mais: viveiros cobertos com telas se sucediam pelos caminhos... Meu genro foi explicando que os viveiros contêm plantação de tomates, pimentões, cenouras e outros vegetais de grande consumo. _ Como pode? pergunto assombrada. _ A verdade é que se precisa plantar e se o terreno parece sem vida, é pura ilusão. A tecnologia alcançou a ilha permitindo desenvolver uma agricultura sustentável. Também fiquei sabendo nos dias seguintes que toda terra que parece mato seco, é patrimônio do Estado, não se pode tirar nem um galhinho, nem pedrinha, nem nada. Qualquer construção tem enorme fiscalização. Quem se aventurar a fazer diferente, tem suas paredes aniquiladas. E paga multas incalculáveis. E que na chegada do inverno toda aquela secura se cobre de flores tropicais as mais diversas, no respeitado ciclo da vida. Seguindo ainda em direção a Ingenio e Arinaga, outra marca de Canárias desenhou-se na via pública: muitos jardins nas rotundas, exibem palmeiras, flores e esculturas, numa combinação de beleza de dar brilho nos olhos, com motivos da cultura canária: temas agrícolas, esportivos, históricos, ecológicos, sociais... As palmeiras são cultivadas em outros sítios e transplantadas para os . jardins. Ficam uns tempos com a folhagem protegida, até a adaptação. Finalmente, a chegada no bairro residencial surpreende pela limpeza ambiental, pelas cores quentes, pela qualidade das moradias, pela camaradagem entre vizinhos. Como eu não sabia desse pormenor, depois meu anfitrião recebeu a reclamação do velho morador, porque passei por ele sem cumprimentar. Para ele, foi ato de desconsideração. _ Os governantes do Brasil precisam urgentemente de um estágio nessa ilha, pra aprender a cultivar o solo brasileiro tão fértil, mas tão maltratado e vilipendiado. Precisam valorizar nossa cultura nas praças e vias públicas, que atualmente só servem para outdoor. Parece que se tem vergonha de nossa origem, os governantes não estão nem aí para a preservação real de nossa memória. Querem mais é tomar a bênção ao Bush, americanizando nossas paisagens o que finalmente influencia nosso pensamento e ação! Se tivermos paciência pra contar as placas em língua inglesa, vamos perder a conta. Os nomes de praça... alguém conhece? As esculturas, uma pobreza. Gosto mesmo do Drummond sentado em Copacabana. Rara justiça. É ótimo que saibamos outras línguas faladas e/ou escritas pela humanidade, mas enchermos as ruas com os códigos alheios é ofensa a nossa cultura! Seria lindo se em todas as cidade brasileiras pudéssemos ver seus heróis, nossos trabalhadores, nossas origens, nossos costumes e características. Dentro de mim, ficou mais forte a indagação sobre a nossa auto-estima, sobre nossa educação, todas as mazelas que assolam a administração pública e privada. Quando é que Lula vai às Canárias? Quando algum presidente do Brasil vai se dar ao trabalho de olhar a realidade brasileira com olhos de brasileiro? Só pra lembrar: as ilhas Canárias têm sua riqueza no turismo, mesmo tendo praias sem areia, solo árido, a alegria dos canários é visível, seu orgulho de mostrar sua terra incomparável!

terça-feira, 4 de setembro de 2007