segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

UM EVENTO, OLHARES, ESPANTO:

...................Com apoio do SEBRAE PB, BANCO DO BRASIL E GOVERNO FEDERAL, muitos trabalhos que antes estavam invisíveis e sem força, estão emergindo como grande solução para a sobrevivência das famílias envolvidas e ao mesmo tempo, fortalecendo a expressão popular. Também estão com visibilidade no evento, os artistas já consagrados. Estes dispõem de uma "ilha" onde podem expor sua idéia, suas criações, geralmente com a parceria de um arquiteto.

..................Em João Pessoa, está se realizando o 7º SALÃO DO ARTESANATO PARAIBANO. O governo do Estado, acossado pelas campanhas que quase o retiraram do páreo político - aqui não entro no mérito das verdades ou mentiras- centrou suas forças no projeto A PARAÍBA EM SUAS MÃOS, voltado para o artesanato, como geração de renda,. Nos últimos anos, foi desenvolvido em todo o Estado, do sertão ao cariri, campo e cidades, em todas as modalidades praticadas.

...............Estão participando cerca de 3000 artesãos, nas modalidades BRINQUEDOS, MADEIRA, CERÃMICA, OSSO E PEDRAS, BORDADOS, RENDAS, TECELAGEM, FIOS, BORDADOS, FIBRAS, COURO, METAL, ARTESANATO INDÍGENA, HABILIDADES MANUAIS E GASTRONOMIA.

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Diariamente, entre 16 e 22 horas, multidões são atraídas para visitar o local, armado em grandes proporções, nas areias da Praia do Cabo Branco. ..............O que mais me impressiona nesse evento, são os olhares e atitudes das multidões que passam. Há desde o encantamento diante dos objetos expostos, a admiração,a identificação com temas e formas, materiais e função, como também o retraimento, o estranhamento, o medo de chegar perto, ou ao contrário, a aproximação para tocar, passar a mão, ou chutar, correr, endoidecer...

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..................Nesta primeira semana, uma artista teve uma de suas peças quebrada, não se sabe em que momento, pois tudo acontece muito rápido. Como no primeiro dia, quando de repente, um menino de seus 10 anos, entrou correndo por dentro do stand de Maria dos Mares, quase esmagando as pequenas peças de cerãmica expostas, num canto onde não se pensaria um incidente.

..............A multidão não conhece a arte, a beleza dos objetos, não vê a alma da criação. Impactada com a enormidade do espaço, ela avança. Ditada pelo corredor, pela novidade, desfila sua impossibilidade, seu desconhecimento, expresso no olhar. Enquanto isso, a roleta marca a quantidade de passantes.

.................Claro, muita gente entra, se aproxima, casais com seus filhos, uns adultos mostram a seus pequenos, com cuidado. Mães, pais, avós com dois, três meninos e sua alegria, olham e passam meio assustadas e preocupadas que as crianças se soltem e façam o estrago. O impacto é grande. Já se sabe que as leituras são praticamente zero, quando se fala da grande maioria. Então, do livro para o povo, o que fica?

.............Concluímos, a cidade não vê a cidade! Os cidadãos não recebem, mesmo nos tempos de escola, as informações corretas? É uma lástima, um horror, que nunca se reverte? Os estudantes não visitam os lugares públicos, orientados por mestres, para aprender a apreciar sua cultura? Na Europa, as crianças, desde muito cedo, visitam os museus, as feiras, os lugares de circulação coletiva, as galerias de arte, com oficinas onde podem compreender o processo de criação; os campos, as regiões agrícolas, onde podem ver, desde o início da plantação, até o momento industrial ou da venda in natura, como as feiras. As crianças aprendem a compreender os ciclos de vida, os ciclos da cultura, os ciclos de criação. E portanto, refletir sobre seu ciclo de humanidade, necessidades e possibilidades.

.............Sabiamente este Salão do Artesanato dedicou um espaço para as crianças terem contato com a feitura de objetos artesanalmente. Uma gota de água para a sede coletiva, a mesma que não tem escolas com condições de aprendizagem cidadã? Tudo está tão misturado, tão barulhento, que o tempo da aprendizagem é mínimo, sem tempo de elaboração mental. Enquanto o barulho perturba e fadiga, as roletas registram o número de passantes... Passantes... olhos que talvez não percebam que o projeto é financiado pelo poder público, portanto lhes pertence, de fato e de direito. Podem se tornar atores da cena, desde que compreendam essa introdução. A roda continua a girar, alguém se habilita ao rodopio?
Ceci