Sai pra lá, neguinha! A menina atravessa a rua, segue até o ponto de ônibus. A mochila parece maior do que ela, de tanto apetrecho pra escola. Do outro lado, outra menina aguarda o ônibus, com seu caderno na mão, a chegada do ônibus. A fila é grande, e começa o aperto do espreme-passa-sobe. As meninas e meninos se apertam pra entrar . A da mochila vermelha parece não caber em lugar nenhum. A do caderno, em sua magreza e negritude,vai se esgueirando. Os cotovelos brancos vão apertando e batendo na menina do caderno solitário. A da mochila dá-lhe um ligeiro empurrão, com o xingamento: - Sai pra lá, neguinha! A menina prende os beiços, não fala. A raiva se enrosca lá dentro, pra explodir noutra hora. - Sai pra lá, neguinha! Fica-lhe a machucar os ouvidos meninos, a saliva engrossa, raiva do vermelho da mochila. Naquela manhâ, a menina do caderno nem tomara café, havia só um pão na mesa, nada de queijinho nem biscoitinho. Felizmente, o riso da mãe tinha o mérito de acalmar o coração da menina. Um dia ela teria todos os queijinhos e pães para seus filhos negrinhos. Um dia ninguém a mandaria sair, porque ela teria o olhar forte, saberia responder, saberia lutar. Ah! Ia pedir a mãe pra aprender capoeira. Saberia lutar e poderia derrubar todos os inimigos dos pretos.
PRECONCEITO É UMA FACE DA VIOLÊNCIA. Não podemos admitir atitudes discriminatórias!
OBSERVAÇÃO: Esta postagem faz parte da BLOGAGEM COLETIVA proposta por LINO REZENDE, no dia de luta contra a discriminação racial: http://www.linoresende.com.br/blog/