domingo, 5 de outubro de 2008

CIDADE & DIGNIDADE

Caminhar em Gran Canária revela o tratamento cuidadoso que é dado à cidade, sua estrutura e funcionamento. Pode – se circular tranquilamente na cidade, nos bairros, nos campos. Vocês acreditam? Então, voltemos: em Gran Canária pode-se caminhar, circular com tranqüilidade. Não digo distraidamente, mas com segurança sobre as calçadas, transitar sem atropelos. Quem empurra o carrinho com seu bebê vai tranqüilo, o espaço está garantido. O homem ou mulher de muletas pode seguir em paz, tem espaço e tempo para a travessia segura. As calçadas são planas, padronizadas pelo Estado, largura e altura têm dimensões funcionais. Nada de rebaixamentos a torto e a direito. Sabemos que em nossas cidades brasileiras, todas por onde passei, as calçadas são vergonhosos exemplos de indignidade. Cada um faz a calçada como quer, da largura que lhe dá na telha e na altura que resolva, com rebaixamentos diante das garagens ou entrada das residências, de tal forma que o olho mais atento pode perder o detalhe do degrau-sobre-calçada e ir parar no hospital de traumas, sabe Deus com qual estrago!... Voltemos: em Gran Canaria bem como nas outras ilhas do arquipélago, os cuidados que aparecem com a estrutura da cidade são expansões da atenção com os cidadãos, moradores ou visitantes. A sinalização está presente em todas as vias públicas, além de que um tratamento paisagístico com jardins e esculturas nas rotundas transmite ao transeunte um verdadeiro orgulho por fazer parte da cidade. As esculturas retratam o estilo de vida, o trabalho, a origem do povo canário, a vida rural e seu labor cotidiano. Também as danças, lutas e motivos folclóricos. Posso citar dois casos que confirmam o cuidado com a cidade e homem: 1. Pela proximidade com o continente africano, é comum que vizinhos façam a travessia mar adentro e aportem em uma das ilhas. Haveria de se esperar aqueles processos de expulsão que são feitos em outros países (!) Pois ali é diferente: os “ayuntamentos” providenciam a inscrição dos imigrantes, com foco nas crianças, para evitar que se tornem marginalizadas. E encaminham o caso para os centros de trabalho, evidentemente com controle para que não entrem no campo das inconveniências migratórias. Trabalhar é a palavra de ordem, todos precisam trabalhar: do contrário, quem bancaria a escola, os centros de saúde, os hospitais públicos de ótima qualidade, os medicamentos, a estrutura da cidade? 2. Pelo clima tropical, o turismo permanente atrai muita gente proveniente do clima frio, alemães, finlandeses, franceses, etc. São casais de idosos que fogem da neve ou aposentados em busca de repouso com qualidade. Enquanto o frio maltrata seus países, eles se refugiam em hotéis da orla, onde a beleza inigualável das paisagens de mar e montanha preenchem seus dias. Então, ocorre comumente de casais chegarem de muletas ou cadeiras de rodas aos hotéis onde se tornaram clientes ao longo dos anos. E declaram que preferem morrer no calor das ilhas, do que se entregarem ao frio que os deprime. Como os hotéis sabem disso, muitos deles procuram se estruturar pra dar ao visitante a possibilidade de terem verdadeiros SPA em seu interior, com TALASSOTERAPIA, com acompanhamento de fisioterapeutas, enfermagem, atendimento médico e mesmo uma alimentação adequada à condição de idoso ou em tratamento médico.
Podemos afirmar que o cidadão canário conhece bem o potencial de sua cidade, e procura corresponder ao tratamento que lhe é dado em todos os setores públicos e privados, reforçando sua dignidade. Fica uma perguntinha: Quando será que nós saberemos cobrar da edilidade e câmaras municipais a consideração que têm obrigação de ter conosco, cidadãos que os elegemos para cuidar da cidade? Quando será que tomamos fôlego e exercitamos nossos direitos plenamente? Podemos aproveitar a chegada dessa leva de vereadores e prefeitos e exigir A CIDADE COM DIGNIDADE de norte a sul do Brasil.