quarta-feira, 18 de abril de 2007

INDIOS: autonomia X dominação Esta coisa de Dia do Índio, Dia do Negro, Dia da Árvore, me cheira a um pedaço de foto de bolo, no meio da fome geral. Os índios, em esforço por sua autonomia, se organizam pra aproveitar a mídia e fazem seus festejos, discutem sua situação, retomam espaços roubados há séculos. Antes, era só o Toré na festa oficial. Agora tomam as rédeas, e festejam toda semana, todo dia, se possível. Aqui na Paraíba, a Educação ainda não assumiu nossas origens, mas nas aldeias, de Rio Tinto, Marcação e Baía da Traição, educadores indígenas se esforçam para fazer uma “Educação Diferenciada” voltada para a reconquista dos seus valores éticos, religiosos, culturais – incluindo lingüísticos – ao longo do período escolar. No entanto, a estrutura montada com a influência dos diversos setores da sociedade, não permite que eles encontrem seu caminho por conta própria. Nas festividades, lá estão os representantes da Igreja Católica, de olho no futuro, puxando orações próprias do catolicismo, enquanto nossos irmãos indígenas se preparam para dançar o TORÉ. Nada tenho contra Padre Nosso e Ave Maria, muito pelo contrário, são belas orações, mas querer que os índios rezem essas ou outras misturadas com seu ritual, onde já rezam e cantam a Natureza, não é invasivo? Se, ao longo da história, a igreja fez questão de tutelar os indígenas, com a tutela criou o hábito de eles receberem coisas e coisas do “branco”. (leia-se "não-índio!), como se fossem mendigos, sem terem feito nenhum trabalho que justifique o pagamento. Sob a capa da proteção, sabemos que o interesse foi outro. Do lado indígena, o esquecimento de sua língua, de suas técnicas, seus valores! Indias contam que se falassem que eram índias, seriam mortas, pelos "donos" dos engenhos e depois, usinas ou fábricas. Acostumaram-se a se esquecer, a se esconder pra sobreviver. Vieram os alimentos industrializados, envoltos em papel brilhante, como as batatinhas fritas, os docinhos em celofane, e o índio não preparado para tais assimilações, entrou de chofre num caldo de horrores alimentares. Os donos de usinas de açúcar passaram a oferecer dinheiro por “aluguel” de terras indígenas, para cultivo da cana, terras que foram destinadas pelo governo brasileiro, a sua sobrevivência. Resultado: as matas queimadas pouco a pouco, junto com a cana, no período da colheita, foi empobrecendo o meio - ambiente, devastando a Mata Atlântica, de forma que é possível ver milhares de hectares totalmente sem condição de cultivo. Muitas dessas matas queimadas detinham fontes de rios que banhavam as aldeias. As fontes secaram. E agora, José? Como podem os índios sobreviver sem rios, sem matas? Como podemos nós suportar tanta devastação de nós mesmos? Há casos de aldeias que servem de depósito do lixo do município. Quer dizer que as autoridades que deveriam zelar pelo ambiente de seu município, se dão o direito de invadir o que ainda resta de beleza natural no Estado da Paraíba, fazer da Reserva Indígena sua lixeira. Felizmente, muitas das lideranças estão acordando, estão trabalhando para resgatar o terreno perdido, inclusive de moradias que foram construídas por “supostos maridos de índias”, em terras da Reserva. Estão acordando, felizmente! E nós, que os amamos, respeitamos e somos amigos, sejamos apenas solidários, atentos: conversar, mostrar que somos irmãos, por nossas atitudes fraternas, isso sim, é muito benéfico. Porém, atenção para não nos tornarmos também invasores da cultura e ambiente indígenas. SEJA VALENTE COMO OS POTIGUARA, E NÃO PERCA A HUMANIDADE.