sábado, 8 de agosto de 2009

UM DIA NO RIO DE JANEIRO ( 2 )

Yasmin saiu cedo do Hotel no Leme, queria visitar uma amiga, fazer cócegas na memória. Tomou o metrô até o Largo do Machado, onde visitou a loja de flores. Eram vivas rosas, lindas para um mimo de amiga. Com o pequeno ramalhete de botões, ali mesmo no Largo, tomou o ônibus 407, para o bairro guardador da memória da cidade. Era um ônibus com gente comum, certamente moradores das comunidades dos Prazeres e da Julio Otoni, crianças e adolescentes indo pra escola, mães com compras de mercado, um homem de pasta na mão, Yasmin sentou com suas flores serenas na mão direita. Pelas propagandas, o ônibus estaria carregado de balas, quem sabe fuzis se sentassem nos bancos? Yasmin sorria por dentro, o rosto desanuviado de quem tem belas lembranças do lugar. Logo partiu o veículo, pela Rua das Laranjeiras, parando e recebendo novas caras de gente esperançosa. Na ladeira da Julio Otoni, curvas e mais curvas, paradas e mais paradas; alcançou fagueiro o alto da Almirante Alexandrino. Que nome bonito este aí! Não tanto pelo almirante que Yasmin não conhecia a bravura, nem a ética, mas o “alexandrino” lembrou as noites juvenis, quando os grêmios literários eram vivos “points” de seu tempo de moça. No edifício sempre-o-mesmo, oos abraços reforçavam a duradoura amizade de mais de 20 anos. Luzia arregalou os miúdos olhos sobre os botões de rosas deitados em seus braços. Foram muitas conversas regadas a sucos e biscoitinhos de produção caseira. Luzia era exímia na delicadeza dos lanches que regavam os encontros entre amigos do bairro. Sorridente e faceira, nada a perturbava, nem mesmo a ameaça de um diabetes anunciada com uma certa agonia pela filha enfermeira. As amigas resolveram dar uma esticada pelas ruas. O bonde passava com seu deslizar sobre trilhos, enfeitando a via pública de pernas e cabeças multicores. O bondinho de tantos amores estava firme: em movimento constante, era uma espécie de estandarte, onde se podiam ler histórias da resistência cultural do bairro. Luzia e Yasmin se foram de bonde, desceram no Largo do Guimarães. A Livraria Largo das Letras era a surpresa anunciada pela amiga. Dali se podia contemplar a Baía da Guanabara, a copa das árvores, o movimento do Largo, ateliers de artistas expondo criatividade, a brisa soprando sons de flautas e violas em ensaios de festa. O café delicioso acompanhou a tarde de lembranças, visitaram o Mercado das Pulgas, pode-se dizer que se nutriram do “caldo de cultura” do Largo. Finalmente, as mulheres deram o abraço de despedida, Yasmin tomou o bonde até o Largo da Carioca, ainda passeou na Rua da Carioca, visitou o armazém buscando um chá especial, verificou que o Cinema Íris ainda está de pé, e voltou tranqüila para o hotel: ainda ia receber amigos antes de partir.