domingo, 9 de dezembro de 2007

O PAPALAGUI

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.” Convidada por Sam, do Fênix Ad Aeternum para a blogagem coletiva pelos DIREITOS HUMANOS, trago trechos do livro O PAPALAGUI*, pensando no Art. 1° da Declaração Universal dos Direitos Humanos, acima transcrito. *Papalagui traduzido literalmente, é aquele que furou o céu. O primeiro missionário europeu a desembarcar em Samoa chegou num veleiro branco. Os nativos, vendo o veleiro de longe, pensaram que as velas brancas fossem um buraco pelo qual, furando o céu, o europeu tinha aparecido.” “O Papalagui pensa de modo estranho e muito confuso. Está sempre pensando de que maneira uma coisa pode lhe ser útil, de que forma lhe dá algum direito. Não pensa quase nunca em todos os homens, mas num só, que é ele mesmo. Quem diz: “Minha cabeça é minha, não é de mais ninguém”, está certo, está realmente certo, ninguém pode negar. Ninguém tem mais direito à sua própria mão do que aquele que tem a mão. Até aí, dou razão ao Papalagui. Mas é que ele também diz: “A palmeira é minha”, só porque ela está na frente da sua cabana. (...) “Lau” em nossa língua quer dizer “meu” e também “teu,” é quase a mesma coisa. Mas na língua do Papalagui (...) “meu” é apenas, e nada mais, o que me pertence; “teu” é só, e nada mais, o que te pertence. (...) Para ninguém pegar em coisas que o outro declarou como suas, determina-se com exatidão, por meio de leis, o que pertence e o que não pertence a certa pessoa. E existem na Europa, homens que mais não fazem do que impedir que estas leis sejam violadas, ou seja impedir que se tire do Papalagui aquilo que ele pegou para si. . Desta forma, o Papalagui quer dar a impressão de que, realmente, garantiu um direito, como se fosse Deus quem lhe tivesse definitivamente cedido o que tem. O Papalagui precisa fazer leis assim e precisa ter quem lhe guarde os muitos “meus” que tem, para que aqueles que não têm nenhum ou têm pouco “meu” nada lhe tirem do seu “meu”. De fato, enquanto há muitos pegando muitas coisas para si, há também muitos que nada têm nas mãos. Nem todos sabem os segredos, os sinais misteriosos com os quais se consegue ter muitas coisas, (...) que nem sempre se concilia com o que chamamos de “honra.” (...) Se pensasse direito, o Papalagui saberia que coisa alguma que não sejamos capazes de segurar nos pertence; saberia que, no fundo, nada há que possamos segurar. E também veria que se Deus nos deu a sua grande casa é para que todos nela encontrassem lugar e alegria. E ela é bastante grande, tem para todos um lugarzinho claro, uma alegriazinha; para todos existe certamente onde ficar debaixo da palmeira, um lugar onde colocar os pés, onde parar. A palmeira deixa cair as folhas e frutos que estão maduros. Mas o Papalagui vive como se a palmeira quisesse retê-los. “São meus” Não os tereis”, jamais deles comereis!” Mas como faria então a palmeira para dar novos frutos? A palmeira é muito mais sábia do que o Papalagui. Também entre nós existem muitos que possuem mais do que outros. É certo também que honramos o nosso chefe que tem muitas esteiras, muitos porcos, mas é só a ele que honramos, e não às esteiras e aos porcos. Estas coisas fomos nós mesmos que lhe demos de presente, como alofa, para mostrar-lhe o nosso contentamento, para louvar a sua grande coragem, a sua grande inteligência. Mas o Papalagui o que honra são as esteiras e os porcos em quantidade que seu irmão possui; pouco lhe importa sua coragem ou sua inteligência. O irmão que não tem esteiras nem porcos poucas honras recebe, ou não recebe honra alguma. Como as esteiras e os porcos não vão por si mesmos á procura dos pobres e famintos, o Papalagui também não vê razão para levá-los aos seus irmãos. O que ele respeita não são os irmãos, mas sim, as esteiras e os porcos; daí porque os guarda para si. Se amasse os irmãos, se os honrasse, se não vivesse lutando com eles pelo “meu” e pelo “teu”, levar-lhes-ia as esteiras que não usasse para que eles participassem desse grande “meu”. O Papalagui daria aos irmãos a sua própria esteira em lugar de atirá-los à noite escura. (...) Se Deus colocou muitos bens na mão de um homem foi para que repartisse com seu irmão.” //////// PAPALAGUI, comentários de Tuiávii, chefe da tribo Tiavea nos mares do sul. Recolhidos por Erich Scheurmann. Ed. Marco Zero, Traduzido diretamente do alemão “Der Papalagi” por Samuel Penna Aarão Reis, pág. 5, 55 a 58.Também participam desta blogagem coletiva : Lino Resende, Eduardo P. L., Du, Silvano Vilela, http://oscar-vg.blogspot.com/Luiz, Sérgio/Histórias & Cotidiano, Ronald, Cejunior, Neptuna, Chuvinha, Daniel Fernandes, Dragonfenix, Afrodite e Vénus, Ru Correa, Titão, Ali_Se, Fábio Mayer, Samantha Shiraishi, Cássia Valéria, Janmedeiros, Fernando, Chicoelho, Andréa Motta, Jeanne, Adriana, Marco, Caco, Menina Malvada (Ou Kaka), Luci Lacey, Dácio Jaegger, Catarina Cavalcante, Tocha da Paz, Idéias Literárias, Meiroca, Enio Luiz Vedovello, Jonice, Luma, Claudia, Tita Coelho, Monica Mamede, Marie, Rafael Sarmento, Fátima André, Lamire, Fábrica dos Blogs, ISM, Clandestino, Lidianne Andrade, Juca, Xico Lopes, Francy e Carlos, Lita, Dad, Pedro Fontela, Mauricio Santoro, André Wernner, X-Man, Cármen Neves, Roseanne, Bentes, André L. Soares, Tao, Lucia Freitas, Saramar, Ricardo Rayol, Luz Dourada, Maria Lagos, Wanderley Garcia, Carlos Fran, Vinicius Cabral, Xmitzx, Pat, Je vois la vie en vert, Cristiane.

25 comentários:

Maria Augusta disse...

Você tem razão, neste mundo o que vale é o "ter" e não o "ser". Mas toda tentativa é válida para fazer as pessoas refletir sobre os valores, né? Parabéns pelo post.
Um abraço.

Renata Livramento disse...

MUITO interessante sua forma de abordar o assunto, adorei, parabéns! Uma excelente e fundamental reflexão.

abçs!

Fábio Mayer disse...

Abordagem diferente, muito legal!

Anônimo disse...

Tai uma forma muito interessante de passar a mensagem que se tem na alma. Uma história, um causo ou lenda, é exemplificativo das nossas materialidades não resolvidas.Parabéns pela bela colaboração para um mundo melhor.
Beijo

SAM disse...

A existência humana é feita de interações, de dar e receber, de criar e ser criado. A religião ensina isso, a psicologia o parece repetir e a sabedoria milenar de vários povos também.

A expressão "Cair do céu" existe no persa e pode ser visto como achar-se tão bom que acho que vim dos céus. Mas também pode significar ser capaz de não viver no paraíso e viver a vida real, da tragédia e do sofrimento, convertendo-os em oportunidade para transmitir aos outros um pouco de mim e, receber dos outros um pouco deles.

O que recebi dessa blogagem foi a preocupação consciente de todos em cair do céu, no segundo sentido. Muito obrigado pelo texto!

Patricia kenney disse...

Ceci,
Adorei esse "conto" do papalagui. Há muito o que pensar a respeito, não é mesmo?
abraço
pat

Fátima André disse...

Obrigada por invocar este magnífico testemunho de Tulavii em "O Papalagui"... dá que pensar, não é verdade?

Anônimo disse...

lINDO E EXCELENTE POST!

Luma Rosa disse...

Infelizmente nem todos os habitantes desse planeta, possuem desprendimento dos bens materiais e por isso, vidas acabam por nada custar. Beijus

Unknown disse...

Parabéns pelo post... abordou o tema de forma interessante... tantas situações precisam ser revistas... para quem deseja paz, muito há por ser feito neste mundo! abraço

Osc@r Luiz disse...

Bem original.
Meus parabéns!
Um abraço.

Anônimo disse...

Tomara que teu post seja visto pelos Papalagui brasileiros, e os tais sejam tocados pela mensagem. Jota Effe Esse, Meu beijo.

Anônimo disse...

Ceci
Só mesmo assim através de movimentos ordeiros e firmes – como as blogagens coletivas – e outras formas de elevar o tom e chamar nossas autoridades a responsabilidade para que, na falta de interesse maior, apenas cumpra às leis.

O empenho político ficam a nos dever, já que eleitos foram pelo voto democrático e sagrado, mas que, parece, os tais cidadãos que o povo só é importante em véspera de eleição...
Abs

lgresende disse...

Ceci:
As fábulas são ótimos exemplos do imaginário popular e trazem, na maioria das vezes, verdades que não admitimos. Pena que tenhamos de adotar o ter e não o ser. A vida seria bem melhor se fosse diferente.

Ceci disse...

AMIGOS,
QUERO ESCLARECER QUE O TEXTO O PAPALAGUI NÃO É FICÇÃO, MAS UM DEPOIMENTO DE UM NATIVO DA SAMOA, ALDEIA TIAVÉA, ILHA DE UPOLU.
Ceci

Anônimo disse...

Querida, que bom ler este texto. E que bom que fez parte de uma blogagem coletiva onde muitos lêem. A filosofia dos nativos pode nos parecer simplista, mas é de grande sabedoria. Precisamos, a cada dia, nos lembrar que a luta deve ser pelo "nosso" e não apenas pelo "meu"!
beijãozão

Anônimo disse...

Amiga, fiquei de fora da blogagem coletiva, mas feliz em ver que vc participou junto com outros amigos, e de forma tão conveniente, tão importante. É isso, quanta sabedoria. beijocas Ce.

Ceci disse...

Elisabete do Encanto, não achei seu blog, gostaria de visitar. Obrigada pela visita e comentário. Abraços.

Neptuna disse...

Parabéns Ceci pela forma original em como pegou nesse artigo! Adorei!

Ps: Obrigada pelo comentário que deixou no meu blog, pode enviar o texto a quem quiser!

Beijinhos,
Neptuna

Wanderley Garcia disse...

Precisamos mais de gente que questione a lei do que de pessoas que a respeitem!
Valeu pela visita!

Je Vois La Vie en Vert disse...

Olá Ceci (de isto em francês ou de Cecília ???)
Merci de ta visite. J'ai pu remarquer que nous avons des choses en commun : toutes les 2 du signe Balance, nous aimons la nature, la famille, nous avons la joie de vivre et nous nous préoccupons des autres.
Reviens me rendre visite, cela me fera plaisir !
Bisous tout verts

benechaves disse...

O país clama por justiça em todos os sentidos! Passando aqui tb pra te desejar um Feliz Natal e que em 2008 tudo se modifique para o bem-estar de todos e não apenas de uma minoria.

Beijos igualitários...

Claudinha ੴ disse...

Oi querida! Os significados são complexos... Eu gosto de dizer que o sol é meu, a lua é minha assim como todas as outras coisas, mas são também de quem souber olhar com olhos de ver... Beijão!

Anônimo disse...

Cecí dos meus encantos... quando a saudade aperta, só me resta relembrar os ótimos momentos e colocá-los no coração, com todas as janelas abertas para que o sol ilumine e aqueça a todos os amigos queridos alí reunidos.
Beijo, saudade, carinho.

Anônimo disse...

Ceci vim te agradecer a visista em meu blog,e te desejar um feliz natal e que teu 2008 seja 1000...vezez melhor que 2007.

A vida é um mistério que tento resolver a cada despertar,um mistério que não me pertence,e assim é tudo que esta na vida,nada me pertence.

Caco